A cada hora, três baianos cancelam contrato com empresas de TV a cabo

Líder no Nordeste, Bahia tem 6% dos cancelamentos de assinatura do país

Crise econômica, TV por satélite, TV por internet ou falta de tempo em casa. São inúmeros os motivos que levaram 24.543 baianos a cancelarem os contratos com empresas de TV por assinatura, entre outubro de 2017 e outubro deste ano, de acordo com dados divulgados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) neste mês.

O número corresponde a 68 cancelamentos por dia no estado ou 3 quebras de contrato a cada hora. Neste cenário, a Bahia representa 5,9% de todos os contratos rasgados no Brasil neste período, sendo o estado do nordeste com mais cancelamentos. Na região, apenas Maranhão, Ceará, Pernambuco e Piauí tiveram aumento de contratantes.

No cenário nacional, entre as quatro maiores empresas de TV por assinatura, apenas a Oi apresentou crescimento no mesmo período, com alta de 8,3% e mais de 123 mil novos contratos. As empresas Vivo (-1,1%), Claro (-4,7%) e Sky (-0,2) tiveram déficit nas contratações no mesmo período.

De acordo com a Anatel a queda nas contratações de TV por assinatura teve início no final de 2014, tanto no Brasil quanto na Bahia. O órgão atribui os números à crise econômica e à popularização dos serviços de streaming de vídeo, a exemplo da Netflix.

O vice-diretor do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), Carlos Nazareth Motta Marins, também atribuiu como os violões da queda nos contratos a crise e os novos serviços de vídeo, o que ele chamou de mudança tecnológica.

“É um conjunto de motivos. O Brasil enfrenta uma grave crise econômica desde 2013, com aumento no número de desempregados. E, como TV a cabo é entretenimento, muitas vezes é a primeira opção na hora do corte, até porque, existe a TV aberta, que tem custo zero”, explicou.

Ainda segundo Carlos Marins, o chamado acesso on demand é um dos motivos que levaram à quebra dos contratos com empresas de TV a cabo. “No últimos dois anos, os serviços de compra de vídeo por demanda ganhou popularidade no Brasil. Esse tipo de venda faz com que o usuário pague uma mensalidade mínima, se comparada aos contratos com empresas de TV por assinatura, e ele tem direito a assistir ao conteúdo em vários dispositivos, sem acréscimo no valor”, disse.

Por fim, o vice-diretor do Inatel também destacou aplicativos de vídeos, como o Youtube, além de ressaltar que as famílias, na hora do corte de gasto, optam por manter os serviços de banda larga, justamente, para ter acesso aos diversos aplicativos, o que inclui os serviços de streaming.

Por meio de nota, a Vivo afirmou que tem como foco “oferecer as melhores tecnologias de conexão na rede fixa e vem expandindo a tecnologia FTTH, rede de fibra ótica de última geração”. A empresa ainda complementou dizendo que, “para o triênio 2018/2020, vai dedicar cerca de R$ 7 bilhões dos investimentos da empresa para a expansão de fibra ótica pelo Brasil”.

O diretor de Varejo da Oi na Bahia, única empresa brasileira que teve aumento de contrato, Enéias Bezerra da Silva, comemorou os resultados da companhia no mercado de TV por assinatura. “Esses números são resultados de diferentes decisões positivas que a empresa tomou, se diferenciando das operadoras convencionais e provando que é possível se manter competitivo oferecendo soluções atraentes para os clientes”.

O CORREIO tentou contato com a Claro e a Sky, mas as empresas preferiram não se posicionar.

Streaming
A administradora Krishna Garrido, 36 anos, se tornou mãe há pouco mais de 6 meses. Com isso, os serviços da TV Net estão em primeiro na lista de corte de gastos da casa. “Eu vejo TV aberta e meu marido também. Quando a gente quer um filme, recorremos à Netflix e, agora com a neném, a gente usa muito o Youtube para vídeos infantis”, disse.

A mãe da pequena Valentina afirmou que ainda não cancelou a TV a cabo, mas já está buscando uma forma de independentizar os serviços de telefonia e internet dos canais fechados. “A gente tem em casa o pacote que dá direito a telefone, internet e aos canais da TV a cabo. Mas, se a empresa tiver uma opção sem a TV, eu vou cancelar o serviço, porque precisamos economizar”, destacou.

A mesma coisa aconteceu na casa da funcionária pública aposentada Eliana Saliba. Depois que descobriu a Netflix, ela confessou não assistir mais aos canais fechados. “Emendo uma série na outra e, quando quero ver telejornais, recorro aos da TV aberta ou vejo as notícias na internet e ouço no rádio”, contou.

Outro ponto levantado por Eliana foi a praticidade das TVs inteligentes, as famosas smart TVs. “Meu neto, que tem 3 anos, quando chega em minha casa, só quer ver vídeos no Youtube. Tudo pode ser encontrado nos canais de internet. Então, é muito raro a gente recorrer à TV por assinatura na hora de entreter ele”, disse.

De acordo com pesquisa desenvolvida pela consultoria Business Bureau, a Netflix é a opção de 18% da população brasileira na hora de assistir a conteúdo pago pela internet. A Globo Play aparece na segunda colocação, com 4% do mercado nacional. Já o Telecine Play e o Sky Online têm 3% do mercado e os outros 72% estão fragmentados em diferentes plataformas.

A popularização da Netflix no Brasil aconteceu, justamente, no mesmo período em que se observa queda nas contratações das TVs por assinatura no país. Segundo a Anatel, “a quantidade de acessos de TV por assinatura (SeAC) está em queda no país desde o final de 2014, quando a quantidade total alcançou os 19,8 milhões de acessos”. O órgão apontou, ainda, que esse foi o maior valor observado para o serviço no país e que depois só houve queda.

A nutricionista Louise Tiúba, de 30 anos, explica que, depois de muitos anos como cliente da Sky, decidiu fazer uma reorganização nas contas de casa e, consequentemente, uma economia. “Minha mãe assinava a Sky para TV a cabo, com três pontos de instalação e um aparelho de gravação, e pagava muito caro só por esse serviço. Ela contratava também a Oi para os serviços de internet, celular e telefone fixo. Juntos, a conta chegava a R$1 mil”, disse.

Informações Correio24hors

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