Jerônimo dança e celebra sem protocolos o desafio de ser governador da Bahia
Novo mandatário não escondeu o caráter popular que o cerca.
Jerônimo Rodrigues é, finalmente, o novo governador da Bahia. O protocolo da posse foi cumprido e o agora ex-governador Rui Costa se despediu do cargo com a carga emocional que o acompanhou em momentos assim: chorou ao falar de Jaques Wagner para, mais uma vez, tentar reforçar que não existe cizânia entre eles. O protagonista, todavia, foi inteiramente Jerônimo, principalmente pelo fato das sucessivas quebras de protocolo.
O novo morador do Palácio de Ondina foi extremamente respeitoso com a liturgia do cargo. Porém não escondeu o caráter popular que o cerca, desde a origem na zona rural até a ascensão na vida por meio da educação como ferramenta de transformação. Jerônimo chamou a família, trouxe aliados para perto e até dançou. Fez uma festa em ritmo de Carnaval da Bahia, com o clássico “Chame gente”. Talvez o grande propósito daquele que declara com frequência o foco em “cuidar de gente”.
Em seu discurso e nas falas durante o cerimonial, Jerônimo mostrou que tem como prioridade acabar com a fome. É um mote que ele usa desde a campanha e remete ao governo Lula I, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva capitaneou o programa “Fome Zero”. É, sem dúvidas, um dos grandes – talvez o maior – desafio de quem assume uma cadeira de governador em um estado pobre e fragilizado por uma pandemia e por uma crise econômica que se arrasta desde o período pré-impeachment.
Como lembraram seus antecessores, o momento político vivido por Jerônimo é semelhante à ascensão de Wagner ao governo baiano. Com alinhamento com o ocupante do Palácio do Planalto, a chance de acesso a recursos e a políticas públicas fica facilitada, mas não é uma garantia de que haverá um oceano de tranquilidade. Diferente do contexto pró-Lula daquele momento, vivemos um país dividido e a oposição, por mais que tenha saído derrotada das urnas, está menos esfacelada pelo resultado eleitoral do que a decadência do domínio político do então senador Antônio Carlos Magalhães.
Os fantasmas do próprio entorno talvez sejam aqueles que devem merecer atenção de Jerônimo. Não que existam esqueletos no armário, frisemos. É porque, diferente do passado até recente, há muitos interesses em disputa, até mesmo no grupo político que agora cercam o novo governador. O MDB e a fome do próprio PT são alguns dos exemplos que podem engolir o governador caso ele não conduza bem os rumos da administração.
Mas agora é inegável haver uma lua-de-mel. Acontece com todos os recém-empossados, na imensa maioria dos cargos públicos. Cabe a Jerônimo administrar bem esse processo para ser melhor do que Wagner e Rui, apesar do discurso modesto de que fazer o mesmo já é fazer melhor do que aqueles que estiveram antes no posto. O primeiro indígena a chegar a governador no Brasil tem os holofotes sobre ele. Assumir o protagonismo sem sombras a assustá-lo é um papel e tanto a partir deste 1º de janeiro.