Terreiro de Irecê celebra Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé
Extensão conta com mais 300 terreiros de Candomblé e Umbanda informais.
Em 06 de janeiro de 2023, o dia 21 de março foi instituído pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva, como o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé. A lei 14.519/2023 foi recebida como uma reafirmação de segurança de cultos e da liberdade religiosa em todo o país, é o que diz o Babalorixá Luciano de Ògún, sacerdote do Ilé Àse Ògún de Ronda e Òsóòsì (Terreiro São Jorge), em Irecê, na Bahia.
“É um momento de grande significado para todos nós que vivemos e vencíamos o candomblé no Brasil. É uma renovação do sentimento de pertencimento para toda a comunidade de povos de terreiro”, afirma o Babalorixá.
Apesar de a constituição federal já prever a liberdade de culto religioso, associado ao entendimento do Estado laico, a intolerância religiosa ainda é uma ameaça recorrente presente no dia a dia dos adeptos às religiões de matrizes africanas no Brasil, e não tem sido diferente na Bahia.
Segundo o Babalorixá, “Cada dia sentimos na pele os olhares indiscretos, os questionamentos ofensivos, os comentários maldosos dirigidos a mim, aos filhos e filhas de santo, por causa das nossas vestimentas, nossos preceitos, nossas guias e pela expressão da nossa fé quando estamos em público. E mais do que isso, sentimos a discriminação quando realizamos nossas festas, nossas oferendas e quando expressamos nossa religiosidade no cotidiano”.
Dentro do território de Irecê, segundo a FENACAB, Federação Nacional do Culto Afro Brasileiro, o Terreiro Ilé Àse Ògún de Ronda e Òsóòsì é o único federado na região, o que revela não apenas a necessidade de expansão das regularizações no território, que conta com mais 300 terreiros de Candomblé e Umbanda informais, como também apresenta uma realidade que precisa ser melhor discutida: as religiões de matrizes africanas precisam de mais espaços de fala dentro das comunidades locais, estaduais e nacionais. Sejam dentro de espaços políticos em todas as esferas sociais, como nos meios de comunicação com poder de alcance que tenham papel educacional, que se interessem por difundir o respeito e a tolerância religiosa para toda a população.
Para o Babalorixá, a determinação de um data que reforce a existência dos povos de terreiro e relembre à população o significado do respeito mútuo entre as religiões, é um grande passo na luta pelo reconhecimento do Candomblé como parte da história do Brasil.
“Precisamos ser vistos e ouvidos. Merecemos ser respeitados e incluídos nos espaços de discussão na sociedade. Acredito que esta seja a principal mensagem para este dia. Temos direito à nossa fé. Temos direito a participar da nossa comunidade como seres participativos das mais diversas comunidades. Nós existimos.
Nós resistimos ao tempo, às violências, à exclusão, ao preconceito, e continuaremos lutando para que sejamos cada dia mais representados. Aos povos de terreiro, aos adeptos das religiões de matrizes africanas, o dia 21 de Março é mais um dia em que faremos valer nossas vozes”, finaliza o Babalorixá Luciano de Ògún.
Por Fernanda Sodré