‘Não tem viatura descaracterizada’, diz delegado sobre ação da PM que resultou em morte de dançarina em Irecê
dançarina chegou a ser socorrida e encaminhada ao Hospital Regional de Irecê, mas não resistiu.
O coordenador da 14ª Coordenadoria Regional do Interior (Coorpin/Irecê), Almir Fernandes, afirmou que as três viaturas envolvidas na ação da Polícia Militar que terminou com a morte da dançarina Gabriela Amorim, 25 anos, em Irecê, não estavam descaracterizadas.
O delegado investiga a situação que ocorreu na madrugada de sexta-feira (5), quando a PM deu início a uma perseguição à picape Hilux SW4 preta, por volta de 0h30. No carro, estavam cinco pessoas – quatro eram integrantes da banda de forró cearense Sala de Reboco, incluindo a dançarina Gabriela.
Fernandes se referia às declarações da cantora da banda, Joelma Rios, e da mãe do sanfoneiro Eliedelson Possidônio Júnior, 32, a empresária Conceição Mendes, 56, de que as viaturas não estavam identificadas. Ao CORREIO, a vocalista Joelma afirmou que os militares dispararam pelo menos 38 tiros.
“Não tem nenhuma viatura descaracterizada. Todas as viaturas daqui são padronizadas”, garantiu, por telefone, ao CORREIO, na manhã deste domingo (7).
Ele acha difícil que os ocupantes do carro não tenham visto a identificação das companhias por desconhecimento. “A pessoa passar e não conhecer é difícil, só se tiver problema de visão”, completou.
De acordo com o delegado, ao todo, eram 10 policiais de três companhias diferentes: quatro da Rondesp Chapada, três da companhia independente da PM local e outros três do Pelotão de Emprego Tático Operacional (Peto). Todos já foram ouvidos.
Parada
Durante o depoimento, os policiais afirmaram que deram ordem para que o carro em que os integrantes da banda estavam parasse. Essa ordem teria sido ignorada. “A polícia quando vai para a rua acena para que o carro pare”, explicou. Tanto a vocalista da banda quanto a mãe do sanfoneiro afirmaram que os ocupantes do carro disseram à polícia que eram músicos, mas o delegado acredita que isso tenha acontecido após os tiros.
“Ainda está prematuro para dizer de qual arma partiu o disparo, mas a ação foi como já vem sendo narrado. A polícia estava se deslocando na (rua) 1º de Janeiro sentido Lapão e eles (policiais) alegam que o carro veio na direção contrária, em alta velocidade”, afirmou Fernandes, referindo-se à equipe da Rondesp Chapada.
Após passar por um quebra-molas, a Rondesp decidiu voltar para fazer uma abordagem ao carro. Pediram, então, a outras viaturas na cidade para fazer barreiras. A primeira barreira foi montada ainda na Rua 1º de Janeiro, nas imediações do restaurante Bode Assado.
“Eles entraram nas ruas laterais, entrando numa rua e saindo em outra até que pegaram uma contramão. Foi quando saíram em cima de outra viatura (o 2º bloqueio), que foi quando aconteceram os disparos”, narrou o delegado.
Ainda segundo Fernandes, a partir dos depoimentos, os policiais que atiraram seriam da Peto. Ele questiona também a informação de que os faróis das viaturas estariam desligados. Em um vídeo citado por ele, seria possível ver o carro da banda passando em alta velocidade e a viatura da Rondesp passando com o farol aceso, logo em seguida.
“Vamos pegar as imagens para apurar. Não sei se no local (dos tiros) tem câmeras, mas, se tiver necessidade de reprodução simulada dos fatos, vai ser feito”, disse, reiterando que o inquérito policial tem prazo de 30 dias para ser concluído.
Em nota, a Polícia Militar informou que foi instaurado um inquérito policial militar. “Uma vez solucionado, o referido feito investigatório, a corporação adotará as medidas legais que o caso requer”, afirmaram.
Entenda o caso
Os integrantes da banda estavam hospedados em Irecê e decidiram jantar em Lapão, cidade que fica a 11 quilômetros de distância. Quando voltaram, na madrugada de sexta-feira, foram seguidos pela polícia que começou a atirar contra o carro.
Gabriela chegou a ser socorrida e encaminhada ao Hospital Regional de Irecê, mas não resistiu. O sanfoneiro Eliedelson Possidônio Júnior passou por duas cirurgias no Hospital Geral de Irecê antes de chegar ao Hospital Geral do Estado (HGE), ainda na noite de sexta.
Em entrevista ao CORREIO, na sexta-feira, a cantora Joelma deu uma versão diferente da polícia. Ela foi atingida por um tiro nas nádegas.
“O veículo que iniciou a perseguição não identificou que era da polícia, não ligou sirene, não deu alerta para que a gente parase, nada. Até porque a gente não cometeu nada ilícito. Mas ficamos com medo e mandamos o motorista fugir”, contou.
Ela disse, ainda, que, em um determinado momento, eles chegaram a pensar que a perseguição tinha acabado. No entanto, quando voltaram para a avenida que dá acesso à saída de Irecê, foram surpreendidos pelos PMs em duas barreiras.
“Eles deram 38 tiros”, afirmou. “Saí desesperada gritando que éramos músicos, o sanfoneiro ficou com uma fratura exposta na perna. Foi uma atitude impensada e despreparada”, declarou.
Já segundo a polícia, o veículo seguia em direção perigosa, andando em alta velocidade e pela contramão. Isso teria levado a viatura a iniciar uma perseguição.
Os policiais desconfiaram que o veículo poderia ser de assaltantes de banco e, então, reforços foram chamados e mais duas viaturas montaram barreiras em dois pontos do centro da cidade. Contudo, o motorista do veículo continuou com a direção perigosa.
Na segunda barreira, os policiais resolveram atirar contra o carro, logo depois de o mesmo não parar. A picape era conduzida por Claudio Pereira Bastos, que foi preso em flagrante por direção perigosa e embriaguez ao volante.
As informações são do Jornal Correio24horas